quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Carta a Um Amigo Triste

Carta a um amigo triste
Luiz Alberto Silveira

Caro amigo triste,
Faço parte do seu mundo e me faz feliz ver você buscar alguma coisa para amar. Com alguma frequência vivemos altos e baixos na vida e nos defrontamos com a ausência das doçuras que a vida têm. Tudo vai acontecendo e, de repente, o que era só alegria num estalar de dedos se foi. Importo-me com você e lhe agradeço por tantos anos de amizade. Sei que você sabe sorrir, sabe escutar, fazer silencio, retribuir amizade e gentileza, que é despojado e generoso, que tem a humildade de saber que não sabe tudo, que se redime e sabe desculpar-se, que geralmente diz sim mas sabe dizer não  sem humilhar, que fita nos olhos ao falar e tem hábitos elegantes. Amigo, você tem um valor inestimável e por isto sofro ao vê-lo triste. Não sofra pelo que lhe fazem. Existem pessoas que só aparecem com problemas e se não os têm resolvidos tratam mal os que se preocupam com elas. Outras falam mal dos seus próprios amigos e somente aceitam uma argumentação quando atende a opinião delas. Acham que o mundo está errado e somente elas estão certas. Não fique triste por esses comportamentos, vindo dos pretensos amigos ou mesmo de familiares. Há algum tempo estava para escrever estas linhas. Está incomodando-me demais ver você triste e sei que você me poupa, nada diz ou escreve e não está apenas querendo chamar atenção. Estou perto e será para mim um prazer enorme podermos sair e viver algumas horas em boa conversa, daquelas que sempre tivemos. Não quero apenas consolá-lo, desejo enfatizar – o mundo dá voltas e nelas  estaremos sempre presentes e assim a vida vai tocando seu rumo até os motivos de tristezas não terem mais valor. Tenho convicção de que a tristeza nem  sempre exige a participação de terceiros para dissipá-la. Estou escrevendo-lhe porque não sei o que se passa mas, vendo-o triste, não quis demorar-me  em dizer : estou aqui, disponha de mim. Caso necessite que lhe leve comida, que trate de sua roupa, cuide de sua casa, recolha  suas correspondências, leve a um profissional, não hesite. Tenho convicção de que ter com quem contar neutraliza tristezas. Se quiser levo um pacote de pipocas para assistirmos um filme juntos ou saímos a caminhar. Podemos ir a um restaurante ou boteco e olhar o mundo girar e dar umas gargalhadas a respeito dos seus (nossos) protagonismos. Esse mundo das piadas prontas. Vamos tomar um café. Já precisei de você e não me esqueço - quis ser ouvido, você atendeu-me e não me disse que “é assim mesmo”, “todo mundo passa por isto”, “você não devia ter feito aquilo”, “eu também passei por isto”. Amigo, aprendi que precisamos de algum sofrimento para mudar atitudes, fazer novas escolhas, rever o que estamos insistindo em fazer. Na dor , do corpo ou da alma, naturalmente buscamos saídas e geralmente nos tornamos mais fortes. Aprendi que sofrimento ensina. Doeu dar os primeiros passos antes de andar. Quantas vezes caímos e levantamos ? Quem para pela dor não elimina o sofrimento. Não pare de viver. Estou aqui para não deixar que a tristeza seja sua companheira insistente. Perdoe minha intromissão, é que sou seu amigo e gosto muito de você.

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