sábado, 11 de agosto de 2018

Dia dos pais.

DIA DOS PAIS

Julio Olivar


Eu não tenho meu pai vivo, fisicamente.

Sr. Antônio Benedito foi embora deste plano já há 27 anos... Está muito mais tempo longe do que o que aquele período que passamos juntos nesta vida. Eu era um menino ainda!

Mas, as lições deixadas são perenes e vivem em mim.

Meu pai foi pobre, humilde, honesto e trabalhador até o último fôlego. E nunca maldisse a vida. Gostava de apreciar a natureza, respeitava o próximo, era pacífico e bom caráter. No mais, era a voz do silêncio.

 Sorridente, falava de Deus, tinha ternura no falar com seu sotaque carregado de mineiro e seus gestos tímidos com suas mãos calejadas...

Morreu com 65 anos sob um sol escaldante, numa segunda-feira, enquanto capinava; era analfabeto, nunca ninguém o orientou sobre nada; não ia a médicos, nunca teve uma carteira de trabalho assinada, não possuiu nenhum documento além da certidão de casamento e o atestado de óbito.

Foi um pária destituído de pátria, pois nunca votou, nunca foi contabilizado em estatística alguma, nunca teve conta em banco, nunca recebeu sequer um centavo de benefício público... Só trabalhou! E honrou seus compromissos, nunca nos faltou comida e nossa casa era própria. Tudo fruto do seu suor.

Jamais foi ao cinema, nunca  foi convidado para uma festa ou viajou para alguma capital, mas era o primeiro a chegar aos domingos n'onde ele acreditava ser a Casa de Deus. Na Igreja, as portas sempre estiveram abertas para ele. Teve mais de 30 afilhados de batismo, tudo gente humilde, seu enterro foi acompanhado por muitos amigos de mãos grossas e há uma rua com seu nome em nossa terra natal, Poço Fundo (MG): Rua Lavrador Antônio Benedito, num bairro de operários.

O dia dos pais é para mim não um dia de tristeza pelas saudades que sinto, mas sim de gratidão a DEUS (nosso Pai maior) por eu ser fruto de um homem honrado que fez o que pôde, mesmo enfrentando as humilhações, as injustiças, a desproteção de um mundo dividido em classes.

Morreu com um troféu nas mãos: o cabo de enxada. Órfão, trabalhou desde os 13 anos para criar os irmãos menores e foi assim até o fim, no anonimato; brasileiro comum, debaixo de sol e chuva, para criar não só a sua família mas a de tantos —de gente rica, inclusive— que o exploraram. Antigamente, os direitos trabalhistas não chegavam no campo.

Trabalhou no tempo de um Brasil rural e muito mais excludente. Mas, seguiu todos os preceitos cristãos. Foi justo, amável e educado mesmo não sabendo assinar nem o nome.

Que DEUS o tenha! Agradeço à nossa cidade natal, Poço Fundo, onde meu pai é nome de uma rua: Lavrador Antônio Benedito, em homenagem a todos os outros lavradores daquela terra. O meu se orgulhou demais do seu troféu e dizia que a enxada era abençoada.

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